quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

João-de-carro

Foi numa visita à casa dum joão-de-barro. Limpei os pés sujos de concreto na soleira; a pele vermelha, queimada de política e sociedade. Desamarrotei minhas penas pra conseguir chorar e o passarinho sussurrou "joão". Eu atendi. Sentado na poltroninha de barro, olhando pela janelinha de barro com a cortininha de barro esvoaçando, fumando um cigarrinho de barro com uma fumacinha poeirenta indo se misturar às paredes, salivando a seca terra vermelha pelo bolinho de fubarro. Ao fundo, o som barrento do repórter dizendo que o Oscar morrera. Nada dura pra sempre. Do pó ao pó. Da chuva ao pó: barro. Do barro ao ar: passarinho. Do vôo ao chão: joão.

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