quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

distribuição de residências em 1960

senhores e senhoras com mais afeição ao o nascer do sol, por gentileza encaminhem-se para a fila da direita , fila que dá acesso à L2.

senhores e senhoras com mais afeição ao o por-do-sol, por gentileza encaminhem-se para a fila da esquerda, fila que dá acesso à W3.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

ontem me perdendo numa super quadra entre 206 e 208 sul, percebi que amo brasília. eu amo ela além de outras coisas tortas, é pelo fato que sempre ela me leva a me perder pelos seus trilhos. sempre me perco por não saber entender o seu espaço, e tudo se confunde ainda mais quando o espaço se confunde com o tempo. clarice andando pela cidade pode perceber esse estado de estar que ela constrói. pensando sobre o espaço, pensei hoje pela manhã que todo espaço é construindo. simples esse pensamento, mas fez todo sentindo quando se mora aqui. essa cidade não foi construida por mim, nem pela minha mãe que veio de outro sertão mais quente que o concreto. essa cidade é tão artificial, que alguns doidos de insolação  construíram outros espaços dentro de brasília. 

Brasiliários



Clarice Lispector é a personagem deste curta-metragem realizado em 1986, inspirado na obra da escritora. O filme mostra o encontro entre a escritora e uma cidade, Brasília. Direção e roteiro de Zuleira Porto e Sérgio Bazi. Prêmio de melhor música Guilherme Vaz, e melhor fotografia Jacques Cheuiche no Festival de Brasília. 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

e-n-g-a-n-a-s-s-s-s-s-e quem acredita que brasília é o eixo, quando as curvas nos levam a inúmeros trilhos. vira-se do avesso e se estar no centro vila telebrasília mais centro que brasília. eu diria que “brasília gente” cria equívocos, especulações socio-mobiliarias. gente cria farsa, cria  cerca na beira do lago. gente profi se isolam na beira do lago. 

Putinha da Federação

O pau de Brasília rasgando o horizonte
O x, lá de cima, marcando o cu do Planalto Central, piscando para as fotos de satélite
A + marcando a virgindade do futuro branco, numa oração seca e torta
O concreto entumescido estuprando um céu azul por vergonha de ser vermelho

O pau de Brasília continua rasgando
O cu da Federação não se cansa de cagar em mim
A buceta de concreto menstruando no cerrado, ensanguentando a cor da terra
A a grande poça de porra ondulando sob as pontes de pernas abertas

Sonhei que a seca era tanta que tudo que não era Brasília tornava-se cinzas
Sobravam quatro baldes de sonhos e ideias.

domingo, 9 de dezembro de 2012

!


Grande Circular

No Museu da República, teatro e um namorado e meio.
Pela Funarte, uma primeira paixão.
Na W3 sul, um porre e um prêmio.
Na Asa norte, o Norte da minha vida.
Ao lado do Careca, uma casa.
Ao lado do Sebinho, uma casa.
406 norte.
No Jardim Botânico, uma cama.
No estacionamento da Concha, outra cama.
Na 508 sul, corpo e voz, um sentido.
Na 408 sul, uma amiga e um porto.
Na 703 sul, uma história sem fim e mais amigos demais.
No Lago Norte, eu, nu.
Em Sobradinho, você, nu.
No Espacinho, no Renato Russo, na UnB, a gente tentando.
No Conic, caras sem rostos nem gostos.
No gramado, cigarro.
No gramado, gummy.
No Piauí, no Por do Sol, no Mendes, no Meu Bar, no Bar da Val.
Na Concha Acústica, Gotan sob a lua.
Na Landscape, eu, resistindo.
No Parque, eu, terminando.

Um Grande Circular me passando pela memória.


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

João-de-carro

Foi numa visita à casa dum joão-de-barro. Limpei os pés sujos de concreto na soleira; a pele vermelha, queimada de política e sociedade. Desamarrotei minhas penas pra conseguir chorar e o passarinho sussurrou "joão". Eu atendi. Sentado na poltroninha de barro, olhando pela janelinha de barro com a cortininha de barro esvoaçando, fumando um cigarrinho de barro com uma fumacinha poeirenta indo se misturar às paredes, salivando a seca terra vermelha pelo bolinho de fubarro. Ao fundo, o som barrento do repórter dizendo que o Oscar morrera. Nada dura pra sempre. Do pó ao pó. Da chuva ao pó: barro. Do barro ao ar: passarinho. Do vôo ao chão: joão.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

grande circular não circula nas satélites

eu posso fechar meus olhos, abrir e encontrar-me com um digno transporte público?

Já deu.



Poesília, de Nícolas Behr.

Genética de Brasília

Porque a gente aprende a construir sonhos com linhas de concreto. Não aprende? Não aprende?

entrebatimento

Hoje meus pensamentos derramam histórias antigas pelas entrequadras / minha memória passeia à meia noite pelas entre-entrequadras // Uma lembrança me persegue do outro lado do Atlântico. / Quando se vive em um avião, nenhuma parte do mundo é longe demais // Porto Alegre é logo ali,/ Lisboa é logo ali,/ Canadá e Marseille são logo ali,/ Sobradinho é logo ali,/ a Asa Norte é logo ali,/ o Cruzeiro é logo ali.// Mas aqueles minutos.../ são os entrepassos de um pensamento longe.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

céu dublado

línguas mágicas
na chuva

Meu corpo serrado

Na escala residencial, alguns momentos, rostos, inseguranças, algumas palavras e medos, há tanto preciosidades quanto coisas putrefatas. Na escala bucólica, alguma poesia, alguma loucura, algum chorar e também algum riso e risco, muita coragem, há eucaliptos tão altos que me fazem olhar para o infinito. Na escala gregária, um pouco de charme e impulsividade, sagacidade e humor, alguma inteligência e sensibilidade, há o cheiro e o brilho da cerveja. Na escala monumental está a minha solidão, alguns amores e vários mortos, pessoas nuas e animais, há sinais de fogo e chuva. Na cartografia do meu corpo, o cheiro de fumaça de ônibus e pastel de palmito no lugar do coração. Abri os braços e me percebi Brasília: no Eixo Rodoviário corre um abraço veloz perfurando a sombra de um ipê.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

lágrima de calango

O rio a correr nos meus pés, a correr mais que eles. É estação de lágrimas incessantes no cerrado central. Pensei em quantos calangos andam chorando.

domingo, 18 de novembro de 2012

Flamboyants e Ipês

Cantei um canto transparente numa esquina branca. Reverberou em tons de cinza, em ecos de cinzas levadas pelo vento. Aceso na ponta do cigarro, um silêncio negro. Chega a seca e meu corpo é o próprio sertão sozinho.

sábado, 17 de novembro de 2012



Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...

(E nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...

Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E ha uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...

Mario Quintana

entrei com o olhar

"(...) eu adoro quando as pessoas de fora pedem o endereço e acham estranho e querem confirmar - eu faço questão de botar "asa sul", acho tão lindo. amo brasília...é simples, mas as pessoas acham que é um mundo de complexidade, mas é simples nos números. parece um mistério, mas é um risinho."


codinome juba - dizendo mais uma vez.

domingo, 14 de outubro de 2012

sábado, 3 de março de 2012

sexta-feira, 2 de março de 2012

Ninguém sabe nem
Mas aqui é sete sentidos de existência
Areia vermelha por dentro em forma de contração

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Distante do amanhecer

Distante do amanhecer:
Olhando estrelas
Vejo bem mais que céu.
Procurando estrelas
Encontro minh'alma.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

I

Tudo que existo é poeira e céu
E quando chove, minhas sobrancelhas
sorriem em linhas tão fininhas
que a vergonha escorre que nem choro

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012



bras-ília

                     a    n        d                   a

     i  nu   nda      da

de                                sol  idão             chu venta.

                      l ama-me! la ma-me! 
estar sozinha em brasília
é estar vestida dela.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

samba triste
faz batucada
no meu coração
já castigado
samba tão triste
trás certas madrugadas
Brasília solitária
mulher sem cais
dança na calçada
na neblina
descalça
na garoa fina
da madrugada despedida
sambra triste de letra pobre
sem rima
ecoando em mim

Timbaúba

A poesia que corre na minha veia,
Tem gosto de açúcar.
Calibre de foice.
Cheiro de humanidade.
Resistência.
O sangue na minha poesia é pernambucano.

eu passarinho SIM!



se você não afeta não está vivo. se você não é afetado está morto. é assim que as coisas parecem ser. E por mais que todos os dias eu aprenda mais sobre a minha inteligência enquanto corpo, e mais sei onde estão as pernas, tenho andando, entre esse aglomerado de gente desesperada, sem chão e almoçando sozinha, no fundo de um funil com aqueles tropeços de quando acaba o meio fio e começa a pista sem a que nós percebamos. Cadê o chão? Desaba, desaba, desaba, desaba...
São tantas referências estranhas que do nada aparecem e se tornam referências e que eu nem queria. Isso tudo que dá todo esse complexo de inferior, uma sabotagem constante.


.



o tempo satisfaz uma espera que é de vontade,
como estar por um fio no Estar
e a sensação de dentro de vidro, que faz os passos ficarem mais incertos, mais longe do chão a cada pisar, como constantemente a errata do não-voar.

eu gosto de olhar para os meus pés enquanto ando e falar bem baixo todos os meus segredos quando o vento sopra forte e as vozes uníssonas são ruído.
 

o vento veio e secou o suor das minhas mãos, ele não trouxe ninguém de volta. é o mesmo desencorajamento de sempre,
 
mas dessa vez respirar foi um fiapo de corrente de alívio.
quando uma resposta está apenas no caminho da espera, sua existência independe de interlocutor,
 
é um caminho etéreo - não há elemento físico, apenas a expectativa: quando o peito engole as palavras que vibram no ar.
sempre almejo ser alguém melhor, desejar bom dia aos mal humorados. É silenciosa a minha existência,
 
não são muitas as palavras que sei dizer.

Nós temos um problema, é uma estranheza que causa isso,
 
de respirar.
mas seus amigos jamais estarão embriagados o
 
suficiente pra entender
que esse mundo
pulsa

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Claro Calar sobre uma Cidade sem Ruínas (Ruinogramas)

Em Brasília, admirei.
Não a niemeyer lei,
a vida das pessoas
penetrando nos esquemas
como a tinta sangue
no mata borrão,
crescendo o vermelho gente,
entre pedra e pedra,
pela terra a dentro.

Em Brasília, admirei.
O pequeno restaurante clandestino,
criminoso por estar
fora da quadra permitida.
Sim, Brasília.
Admirei o tempo
que já cobre de anos
tuas impecáveis matemáticas.

Adeus, Cidade.
O erro, claro, não a lei.
Muito me admirastes,
muito te admirei.

LEMINSKI, Paulo. Distraídos venceremos.4. ed. São Paulo: Brasiliense, 199.